segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sete vidas




No teu colo tentei dizer que não
uma duas vezes e outros tantos cios
é certo que não houve culpa apenas instinto
a salmoura que invadia as veias estéreis
talvez fosse culpada da fuga-felino-ferido
por obrigar-me a regurgitar astros de fogo
num espasmo que forrava o estômago de vidro
e me trazia ao arrepio num cursar pleno de naufrágio


Não voltei a casa
nunca entrei por aquele buraco que mandaste fazer na porta
com as medidas exactas do meu corpo ainda jovem-cruz
nem me aproximei da janela do teu quarto onde
penduravas rubras camisas de noite com o teu cheiro
e bocados de pele de outros sonhos
muito menos deixei-me levar na tentação
do comedouro que deixavas imaculadamente apetitoso
na tua cama rebate da minha porta

Lá fui eu
lado lado com a noite e com a chuva de silêncios
de pêlo assanhado e de manias escorregadias
dei meia volta e desci a rua
até que a rua deixou de existir
sem norte ou fado chamamento
como todo o animal que se preze
em não ter dono
para morrer
fugir para nascer,
outra vez sozinho.

Depois houve
aqueles telhados, beirais e caixotes do lixo
que me obrigavam dizer que sim
três
quatro
até sete vezes vidas
mas não me convenciam

Entre nós bem tentamos destruir as coisas
inverter sentidos do casualmente correcto
ainda bem que não conseguimos
e não foi por causa disso
que agora me apanham num colo qualquer
assim, sem mais nem menos, virado do avesso.

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