sábado, 24 de agosto de 2024

Mês 4

 

à janela

esperavas o regresso

do teu filho

(procuro-te no nosso altar)


ao sair de casa dizias

para conduzir com cuidado

"vai devagarinho - estás a ouvir?"

(não ultrapassava os 80 km/h na autoestrada)


antes de fechar a porta:

"até amanhã se Deus quiser!"

num anseio pelo regresso de outro sol

(ainda hoje oiço o teu eco)


a repetir vezes sem conta:

"nunca se sabe o dia de amanhã"

"levanta-te e ri" "qual médico, qual carapuça!"

"água e vento é meio sustento"


assim vai a ronda negra pela saudade

frases rápidas, eléctricas, instantes em avalanche,

dor que nem a memória se lembra igual.

(eu em frente à tua fotografia onde sorris)


Sem comentários:

Enviar um comentário

Quando a terra chamou

  Dormia sob o respaldo dos antidepressivos quando um tremor sacudiu a cabeça da cama, enleou-se nos meus pés com a força das algas vivas, s...