sábado, 4 de abril de 2020
Aquele quintal
Relembro a última vez que a vi,
a minha tia passeava com o meu primo
numa caminhada pelos trilhos quentes de verão,
sorriso leve de sol pintado entre as torres do final de tarde.
Recordo… A Mulher!
lembro-me do seu carrapito e dos tiques de quem estava preparado para tudo,
de avental de guerra, dos braços fortes, feitio firme e justo,
dos prédios altos que manteve e das escadas que aprumou,
das sestas que me obrigou contra a minha vontade de explorador de quintais.
Já agora... O medo!
ainda menino, quando regressava da escola, nos dias de inverno abria as goelas,
Gritava: Tia Virgínia! Tia Virgínia! ecoando receios pelo quintal das videiras em esqueleto,
tal não era o meu pavor dos labirintos surpreendentes da noite,
e corria às apalpadelas até chegar ao abrigo da sua voz por detrás do postigo alto.
Depois... A aprendizagem.
Tia Virgínia e os seus avisos do sol a pique e do chapéu que me faltava,
da ternura com que colocava alho para aliviar as picada das abelhas,
dos recados para não comer figos nas horas do calor e não subir às nespereiras falsas,
das reprimendas para não judiar a gata Oba que tanto me assolapava de tentação.
Hoje o mundo vive num cerco perigoso;
na despedida não houve abraços, não houve mãos nas mãos, nem beijos,
apenas um caixão fechado e pessoas próximas mas afastadas,
porém, começou a florir outro céu, outra força, noutro quintal de afectos.
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