sábado, 6 de julho de 2019

Uma viagem até Hornøya na Noruega



Maio de 2018 | Hornøya - Noruega.

Ainda o dia aprendia a soletrar os primeiros raios de luz já estávamos ansiosos por embarcar em direção à ilha Hornøya. Mas não estávamos sozinhos. No porto de Vardo juntaram-se outras almas de várias nações desejosas por observar aves. Para navegarmos até à ilha tivemos que reservar o nosso lugar no barco e para tal dirigimo-nos a uma casa amarela pré-fabricada, onde comprámos o bilhete de ida e volta e ainda tivemos direito a um colete que quase nos melindrava a masculinidade. Logo após esta provação estávamos mais do que prontos. 

Volvidos alguns instantes, chegou o barqueiro, um homem ruivo de meia idade, pesadote e de barbas longas que sorridentemente convidou-nos ocupar os lugares dividindo os passageiros para cada lado do bote de borracha. Era hora de zarpar a todo o gás. A viagem até à ilha de o Hornøya fez-se de forma rápida, com os coletes saudavelmente bem amarrados e com olhar fixo no horizonte não fosse o enjoo pregar-nos uma partida. A temperatura estava agradável e após 15 minutos e umas acelerações pela crista da ondulação, a ilha-rochedo parecia cada vez maior. À nossa frente anunciava-se imponentemente Hornøya,  o ponto mais oriental da Noruega, pintalgada com farrapos de neve e protegida por milhares de seres alados.  Gaivotas, airos, corvos, galhetas e outros tais, cruzavam os céus numa incógnita chusma voadora. O som dos bichos propagava-se por ondas de impacto cacofónico quase ensurdecedor e o cheiro a dejetos era um aviso para o que nos esperava.

Com cuidado sairmos o barco e o espanto causada pelas nuvens de milhares de aves toldou-nos os sentidos momentaneamente. Ainda estávamos a habituar-nos ao ambiente, quando o barqueiro comunicou-nos uma má noticia - a passagem para o outro lado da ilha estava condicionada; devido à queda um enorme pedregulho que inviabiliza qualquer tentativa de contornar o ilhéu. Nós e os restantes visitantes ficámos confinados a um perímetro de poucos metros entre o cais e o grande calhau. O passadiço estava destruído pela queda da enorme pedra o que abalou o nosso ânimo. O barqueiro informou-nos que o governo local não fazia intenção de mover a pedra, uma vez que aquela derrocada tinha sido a vontade da natureza, e se fosse necessário seria construído um outro corredor ladeando o calhau. Fiquei a pensar de como seria em Portugal e porque motivo não fomos informados da queda da pedra antes de embarcarmos. Adiante. No mar imenso azul, poisavam bandos de airos que viram o barqueiro a desaparecer em direção è península de Varanger. Não nos restava outra coisa senão sorver todos os pormenores até os mais mal cheirosos, aproveitar todos os momentos e fotografar todas as oportunidades e assim foi feito. 

Contudo houve mais um incidente. Na minha busca incessante por experiências e no meio de alguma atrapalhação, deixei cair a máquina de filmar dentro de uma poça de água castanha e fedorenta. Bastaram segundos para que naquele caldo de porcaria o aparelho desaparecer. A poça não era muito funda e um pouco atarantado com o sucedido retirei a máquina  daquele caldo malcheiroso. Não tive outra alternativa senão  filmar com o telemóvel e mesmo assim ainda consegui registar alguns instantes sonoros e gráficos do ambiente da ilha. Quando eram 13:00 apareceu o nosso barqueiro que amavelmente levou-nos de regresso para o porto de Vardo. Estava contente pela experiencia única, independentemente de tresandar a guano e de carregar mais uma maquina obsoleta. 


Um dos objetivos principais era fotografar o papagaio-do-mar mas não foi fácil. Vimos 2 e só conseguimos alguns registos nas viagens que as aves realizavam entre a pesca no gelado mar de Barents e da ilha de Hornøya onde a ave nidifica. Presumivelmente a população de papagaio-do-mar (Fratercula arctica) ocupa a parte inacessível da ilha e daí a razão de vermos tão poucos. Recentes estudos indicam que os números desta espécie tendem a diminuir. 







O corvo-marinho-de-crista ou galheta (Phalacrocorax aristotelis)
dava-nos as boas-vindas ao chegar à ilha.


Os detalhes das suas penas brilhantes,


E uma orquestração desafinada de galhetas



Eram tantos os airos-comuns (Uria aalge) que no meio deles quase de certeza andavam uns airos-freio.

O olhar atento do airo que conhece tão bem o Mar de Berents

                                 


A  misteriosa torda-mergulheira (Alca torda) e as suas aproximações à costa.




No topo de uma ravina um casal de tordas brindou-nos com um glorioso recital de acasalamento.

Grandes bandos as gaivotas-tridáctilas (Rissa tridactyla) afugentavam as águias e os corvos que por ali tentavam caçar os ovos.





O airo-de-asa-branca (Cepphus grylle ) foi observado em Ekkerøya e não colaborou como desejado.



O grande pigargo (Haliaeetus albicilla) em busca de alimento 




A ilha de Hornøya é uma reserva natura desde 1983 e é habitada por sensivelmente 80.000 aves marinhas, tendo sido já registadas 100 espécies diferentes. É comum observar várias espécies de golfinhos, baleias e orcas a patrulharem as águas. A ilha dispõe de um farol que é utilizado para investigação de cientistas durante o verão, mas também existe a possibilidade de alugar quartos para estadia.




 Aqui ficam alguns exemplos da paisagem. 





Os bandos ensurdecedores de gaivotas-prateadas e 



Em mergulho sincronizado de airos,


de seguida o ajuntamento piscatório.


O cais de embarque da ilha com um abrigo para os dias de tempestade


Uma  tentativa de fazer uma pintura com muitos airos.






Agradecimentos:


Família Frade


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