sexta-feira, 21 de junho de 2019

Vilar Perdizes e outras latitudes


E daqui do alto promontório Lusitano, avisto as Terras do Barroso, onde todos os pretextos para degustação dos prazeres da alma justificam a estadia.
Como se entrasse num portal multidimensional, a paisagem irrompe entre planaltos verdejantes e o silêncio do granito pintalgado por algum casario centenário. Ando por aqui na companhia de amigos, com o intuito remoto de fotografar algumas espécies que se escondem entre o acaso e a sorte. Como tal, fiz uma breve visita a mística aldeia Vilar de Perdizes, uma vila bem conservada e que soube aproveitar as oportunidades que a dualidade entre o divino e o profano lhe proporcionou. Por aqui, ficámos alojados na Casa da Laborada onde fomos muito bem recebidos, num misto de simpatia e hospitalidade que desde logo nos fez sentir de coração cheio. A casa do século XVIII encontra-se muito bem conservada de onde sobressai a sobriedade do requinte e bom gosto, suportado pelo traço da madeira, enriquecido pela pedra. Um dos aspectos que mais admirei foi a nascente de água cristalina que entre paredes nos transporta para os ecos da natureza. Foi fácil adormecer e acordar por estas terras de gente afável e generosa.
Depois de um apetitoso pequeno-almoço, percorremos trilhos e veredas e convivemos com os seus dignos representantes em paisagens que perduram na memória dos olhos e o que a luz faz deles.

Da nossa visita ao planalto da Mourela aqui ficam alguns instantes consentidos pelos céus.








Quanto à avifauna, umas das espécies que trazia na ideia era o picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio). O bicho não foi muito colaborativo, muito embora surgissem várias vezes no alto cimeiro dos ramos, contudo nem sempre com a melhor luz ou posição (e alguma falta de engenho meu). Porém, valeu a pena observar a sua calma distante, tão teimoso quanto selvagem, o que nos leva pensar que nem tudo é simples ou garantido nestas coisas de sorte e momento. 







Observámos outra espécie emblemática por estas terras: a escrevedeira-amarela (Emberiza citrinela) com os seus tons de amarelo quente, e por breves momentos brindou-nos com um ar da sua graça solar.


O Bútio-comum  (Buteo buteo) ainda nos fez pensar se não seria outra ave de rapina, mas infelizmente não se confirmou as nossas esperanças.


O tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) surgiu a voar baixinho, dando apenas hipótese para um registo de fim de tarde.



A petinha-dos-campos (Anthus campestres) estava muita atenta à nossa aproximação.


Em Tourém avistamos a andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestres) com os seus voos rápidos e imprevisíveis.




Ainda registámos a curiosidade dos sardões (Lacerta lepida) que saíam dos buracos para ver quem passava, entrando logo depois, como eu os compreendo.


Entre joaninhas, borboletas e gafanhotos, eis alguns insectos que animavam o micro cosmos floral.




A borboleta-nocturna Eurrhypis pollinalis compunha o espaço vazio até chegar ao dente-de-leão





A dada altura da nossa caminhada, surgiu um estranho zumbido, tememos que tivéssemos importunado um bicho "perigoso", todavia tratava-se do belo gafanhoto Arcyptera tornosi. 




Também me retive nos pormenores da flora arbustiva que irrompia da aridez do solo em tons vivos e desconcertantes.





Foram dois dias que voaram pela simplicidade dos sorrisos. Fica a recordação de um passeio extraordinário com biodiverdidade e paisagens singulares. Voltar quem sabe um dia... Aqui fica uma palavra de agradecimento e amizade para :

Arinto
Família Frade
Casa da Laborada





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