quinta-feira, 1 de novembro de 2018

No bolso da tempestade





ouço o murmurar das pedras envoltas nas cordas de mar,
o corpo das ondas de azul escuro agiganta-se em fúria, 
o silvo do vento - sempre o vento - compõe a orquestração
ao arrancar toldos e telhados dos bares da encosta tardia.

as casas da praia improvisam trincheiras de última hora,
em contagem decrescente - o gritar da bandeira vermelha  
enquanto um casal discute o tamanho da última vaga,
no divórcio de marés e na partilha dos filhos náufragos.

lá em baixo, depois do desarrumo do areal,
um formigueiro de surfistas desafia o tear da ondulação,
ao domar a ira das águas de músculo montanhoso,
sem medo algum das escancaradas gargantas de Neptuno.

da pele atlântica fogem barcos que um dia serão fantasmas como tu,
na curva do Mónaco, espectrais vaga-lumes e automobilistas,
tentam a ultrapassagem vitoriosa da ultima sombra;
no passeio marítimo a rebentação desafia o herói a fazer o seu auto-retrato.

na marginal, aqui e ali a morte é uma amiga solteira,
com quem se vai praticando a solidão das tardes sem fundo;
de quando em vez ouvem-se os ecos dos estilhaços de céu,
pergunto-me:como se foge ao baptismo de uma tempestade?




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