
a sede com que te entregas ao barro e à forma
como um animal rebelde que finge ser todos os dias um pouco mais selvagem
e passas a cara pela água escura - satisfeito -
depois desenrolas a língua na ânsia de sorver a imagem
que todos dizem ser de um animal procurado no bestiário
não ligas nenhuma ao que os outros dizem
calmamente certificaste-te que ninguém te seguiu até aqui
deixas o teu exoesqueleto a beira do riacho
limpas as últimas escamas para te livrares dos restos de carne
e raspas o que resta das unhas afiadas no sangue da pedra
por fim mordes o lábio até que a dor seja um caudal vermelho
e mergulhas na porta
onde do outro lado todos te esperam
em aplausos politicamente discretos.
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