domingo, 13 de dezembro de 2009
saldos cegos
do outro lado da montra a manequim convida-te a ocupar o seu lugar
acredita que é tão fácil por ser de plástico imediato prático e sintomático
ainda para mais em suaves prestações que te fazem esquecer
o quão efémero é o desnorte da felicidade
e ela ali vai estar nesta loja ou noutra qualquer
rua abaixo bairro acima de olhos vendados num gesto convidativo à descoberta
e tu
que já passaste por tantas outras montras não ficas indiferente ao seu apelo
e quase inamovível permaneces petrificado a olhar para a loja
à tua volta tudo gira sem sair do mesmo lugar
num redopio cruel de tempo onde as ruas não são mais que jogos de sombras
e os seus passageiros de rostos incógnitos caminham nos seus sapatinhos de corda
depois de acender um cigarro de chocolate pensas que
não precisas de montra para te esqueceres que já foste assim
desvias o olhar da manequim que te vê partir
e sem mais
caminhas com os sacos cheios de nada até ao centro do mundo fechado .
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