domingo, 13 de dezembro de 2009
azul de mim
às voltas pelas arestas de uma cidade que se tinge de fuga
paro junto ao bairro que se desfoca sempre que o recordo
ainda penso que pertenço a este lugar
às arestas de betão ou aos caixilhos das casas
aos elevadores que nunca desciam
ou aos patamares de ladrilhos de pedra e areia
onde uma luz vacilante hesitava
como eu
sempre que subia pelas escadas
as lâmpadas calavam-se na mais pura conspiração
depois às apalpadelas lá tirava a chave e entrava
numa toca escura e só - a minha casa -
e da janela reclamava todo o horizonte que inundava os meus olhos
lá em baixo era sempre abismo e via
o jardim a fonte que há muito deixou de ser caminho de água forte
as pessoas e os seus sacos de compras e até os putos de gritos primaveris
faziam-me sorrir de vida pequena maior que a minha
mas nem isso existe agora
o que existe é desfocado e irreal
acho que devia bater à minha porta
mas será que alguém vinha abrir
o melhor é passar despercebido e esperar
que um vizinho mostre algum arrependimento
e me volte a chamar com um palavrão qualquer
mas nem isso
nem os fantasmas gostam de voltar
quando não são chamados.
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