No regresso de mais uma caminhada passei pela Quinta da Lagoa em Carcavelos, onde observei um corvo marinho (Phalacrocorax carbo) a sobrevoar o lago para depois poisar em cima de uma pedra. Já tinha fotografado muitos corvos-marinhos em vários locais, mas nunca nenhum em Carcavelos. Tentei a minha sorte, lentamente aproximei-me da ave que estava entretida a secar as penas. Quando me preparava para registar o momento, ouvi um comprometido risinho a escassos metros de mim. Sob a protecção de um quiosque encerrado estava um jovem casal de namorados entusiasmados numa cega troca de beijos e carícias e eu com uma máquina fotográfica na mão, qual paparazzi... Bem, eu não queria interromper nada, ainda pensei sair dali e escolher uma outra abordagem da ave. Eles olharam para mim e para a máquina com desdém e indiferença de quem tinha mais que fazer, para depois, de mãos e pernas entrelaçadas, trocaram de línguas num osculo apaixonado. Eu estava literalmente no meio do corvo cupido e dos ardentes apaixonados, todavia não me senti intimidado pelo momento de cumplicidade alheia, e fotografei o que realmente me levou ali. A luz não era a melhor, porém o corvo foi um excelente modelo permitindo alguns ângulos curiosos. A vegetação desfocada em primeiro plano conferiu um curioso contraponto com o amarelo do bico e as matizes negras das penas. Quanto ao casal, suponho que continuassem enamorados como até então. Estava a sair do jardim, não fosse o chuva e o vendaval que se animou de repente, e ainda era levado a pensar que a primavera já tinha feito das suas.
Foi um bom regresso a este local. Tal como tinha escrito no ano passado, vale a pena redescobrir a biodiversidade do nossos jardins e ouvir as histórias com ou sem asas molhadas que têm para contar.
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