No fim de tarde de pensamento calmo,
caminhava pelo lado esquerdo da rua,
caminhava pelo lado esquerdo da rua,
protegido pelas ramificações silenciosas das árvores,
seguindo incógnito e sombrio o rasto das osgas,
junto ao muro da fábrica de interruptores bilingues.
Porém, sem saber bem porquê,
Porém, sem saber bem porquê,
mudei para outro lado da rua, perto da esplanada,
onde passam a correr os putos que transportam a escola às costas;
aquele passeio junto aos prédios onde moram pessoas e problemas,
em comunhão desfeita com outros problemas e outras pessoas.
Este é, sem dúvida...
o lado mais luminoso da rua, onde a noite chega mais tarde,
muito depois de anoitecer no lado esquerdo de qualquer rua do mundo,
o lado direito tem mais luz, tem mais cor e mais gente encaixotada,
não e uma questão política, é apenas uma opção entre um lado do passeio.
E quando avançava tranquilamente pela direita,
surge a surpresa e o abalo das recordações perenes
ao ver ARMS à minha frente sentada na esplanada,
22 anos depois de nos separáramos ainda miúdos,
e de nos maltratarmos para o resto dos nossos dias,
tal não foi a implosão daquele amor.
22 tempos de juventude e mil possibilidades,
na altura a vida tinha uma cor e um peso diferente,
anos antes...
a fábrica interruptores bilingues dava emprego a muita gente,
a fábrica interruptores bilingues dava emprego a muita gente,
a minha mãe e a minha tia lá esgotaram saúde,
a sirene que chamava os operários ecoava pela vila,
às vezes fundia-se com os sinos da igreja.
às vezes fundia-se com os sinos da igreja.
não sei se havia esta esplanada mas já existia o bairro novo,
e grandes borboletas que queriam comer osgas...
ARMS...
de rosto afiado e olhar felino,
há 22 anos lembro-me da tua ilha,
há 22 anos lembro-me da tua ilha,
juntamente com os longos cabelos de
primavera
corpo esbelto de menina, tangente perfeita ao fruto
corpo esbelto de menina, tangente perfeita ao fruto
e hoje, sem saber porque raio de destino enviesado,
eras tu que estavas no lado direito da rua
e eu à tua frente do lado improvável do acaso.
Durante segundos olhámos os segredos que a pele emudecia
depois procurámos a cor de um abismo que nos fizesse desviar o olhar,
num desmando autoritário para com as pedras da calçada,
porque só elas sabem ARMS...
a água que sulcou esse chão de vento.
porque só elas sabem ARMS...
a água que sulcou esse chão de vento.
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