domingo, 1 de agosto de 2010





visto de longe, imóvel em horas a um canto de pó

não tenho dúvidas sobre isto

[ dúvidas sobre o quê?]

não sou eu que habito esta página

[ então? ]

quando pego em algo para escrever há uma força que me obriga

a inclinar-me, declinar, pensar, registar todo o movimento que respira fome de criação.
às vezes dou por mim a infligir rudes golpes na ponta dos dedos.

[ mas és tu que escreves... ]

mais ou menos. é como se a caneta de prenhe de ideias fosse um prolongamento do meu corpo
e o corpo não passasse de uma biblioteca de recados e nódoas vivas de tinta.

[ e porque dizes isso? ]

não sei. há dias assim.

[ espaço ]

as palavras são tão brancas que tingem a língua de silêncio em aftas de fala

[ assim como?... ]

não me apetece escrever. não me apetece ser. não me apetece ir. só ficar em pó e mais nada.

[ só isso? ]

e não basta ? olha lá uma coisa.se começasse a esgravatar, só iria escrever o que não me apetece que seja escrito

[ se tu o dizes. mais nada! ]

ninguém me levava a sério!

[ isso é verdade!]

maldita hora em que não amarrei os dedos à boca

[ ainda bem que o dizes, e não o escreves. ]

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