sábado, 22 de dezembro de 2018

Uma borboleta num mundo de carvão


Urge fazer coisa diferentes. Sempre que posso, tenho necessidade de experimentar outras vertentes fotográficas e arriscar abordagens que agitem e estimulem a imaginação. Entre o registo cientifico de e a representação "artística", muitas vezes fico sem saber para que lado pender, e muitas vezes, opto pelo imediato, arrependendo-me mais tarde. Fico com aquela sensação de que podia fazer melhor ou ao menos de outra forma.

Depois da gestão de dúvidas e algum idealismo, sai de casa com a ideia (preconceito)  de criar imagens a preto e branco de uma cidade vegetal. Mais concretamente uma civilização povoada por estranhas flores, folhas assimétricas, pétalas desfocadas e caules transparentes nas suas deambulações em torno de uma estrela qualquer.
Estava ciente que seria algo não muito concreto como tal fiz uns esquissos na minha cabeça, para depois escolher as ferramentas que se adequavam a essa tarefa. Para tal utilizei duas lentes inteiramente manuais: Uma Telemegor 105 mm f5.5 e uma Lens Baby 50 mm f2.8. Para não andar carregado não levei comigo um tripé (má opção). Tanto pela qualidade óptica como pela estabilidade, a definição das fotografias não foi a melhor, mas também não seria a nitidez aquilo que se pretendia. Os trabalhos não ficaram nada de especial. Para além do efeito bublle criado pela Telemegor e das zonas desfocadas com arrastamento da Lens Baby, andava à procura da tal urbe vegetal misteriosa, contudo não encontrei nada que se assemelhasse com o imaginado, por entre várias plantas que visualmente explorei.

Já estava a arrumar as lentes e a paciência na mochila, quando poisou uma borboleta-cauda-de-andorinha numa planta a uns dois metros de mim. O dia não estaria completamente perdido. Bem vistas as coisas, o somatório da borboleta com a planta originou um momento interessante, que só por si saía fora do que inicialmente tinha projectado, contudo a conjugação dos dois elementos e o ângulo de foco escolhido tinha algo de visualmente misterioso. É verdade que não era o que andava à procura, porém seria algo que saciava por momentos a minha fome por novidade. Sem olhar às dores de costas, deitei-me na vegetação e entretive-me a registar a adoração da borboleta ao sol, numa ilha inimaginável de carvão vegetal. Deixo-vos com esses parágrafos de luz e ensaio que de certa forma salvaram-me da parvoíce deste descontentamento. Às vezes a simplicidade (quando acontece) é a melhor aspirina.







Fotos realizadas em Setembro de 2018



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