Foi com enorme contentamento que aceitei o convite dos meus amigos Frade para partir em busca do tordo-zornal pela geometria das terras serranas. Ficámos alojados nas Taliscas, terra onde o ambiente calmo e familiar é salpicado pela melodia corrente da ribeira de Unhais, numa combinação de matizes naturais que se traduzem num elixir de tranquilidade para a alma.
Quando a noite despertou o céu engalanou-se de estrelas para festejar Santa Bebiana e claro... nós fomos para a festa! Chegámos ao Paul, e onde existiam casas particulares passou a haver bares de porta aberta, com gente de sorriso pronto e sincero. Degustei o doce das filhoses com travo a aguardente enquanto perdia o olhar pelas ruas típicas da vila. Depois, de púcaro atado ao pescoço, percorri várias casas transformadas em tasquinhas, provando o espírito da jeropiga e as suas histórias entornadas em gargalhadas.
A população entrou na romaria de espírito jovem e festivo, acompanhando os bombos, as tunas e os cantares populares em torno da segunda vila mais portuguesa de Portugal. O Paul estava em festa.
No outro dia ainda o sol não tinha nascido já nós encetávamos viagem em direcção às Penhas da Saúde. Lá chegados e num rasgo de sorte, encontrámos um precioso tentilhão-montês no meio de um bando de outros tentilhões-comuns, alimentando-se das bagas vermelhas que abundantemente caiam das árvores. A luz (ou a falta dela) era terrível, sendo esta uma das poucas fotografias sobreviventes.
A população entrou na romaria de espírito jovem e festivo, acompanhando os bombos, as tunas e os cantares populares em torno da segunda vila mais portuguesa de Portugal. O Paul estava em festa.
No outro dia ainda o sol não tinha nascido já nós encetávamos viagem em direcção às Penhas da Saúde. Lá chegados e num rasgo de sorte, encontrámos um precioso tentilhão-montês no meio de um bando de outros tentilhões-comuns, alimentando-se das bagas vermelhas que abundantemente caiam das árvores. A luz (ou a falta dela) era terrível, sendo esta uma das poucas fotografias sobreviventes.
Não parou de chover um minuto e houve alturas que não se via um palmo à frente do nariz. O para-brisas do carro deixava antever uma realidade branca de névoa fria e rajadas de vento intimidatórias. Mesmo assim, ainda observámos um bando de melros-de-colar e supostamente tordos-ruivos ou tordos-zornais, ou quem sabe, se não seriam pequenos duendes voadores sobrevoando catedrais de
neve suspensas.
A subida até à Torre em busca da escrevadeira-das-neves também não teve sucesso. O nevoeiro condicionou a busca por qualquer coisa que se mexesse. Restavam as árvores para nos indicar o degelo das horas matinais.
Tempo para descomprimir. Nas Penhas da Saúde depois da espera inglória pelos bichos, guerreamos com a neve, ponteámos a sorte e injuriámos a sexualidade das chaminés. Brincadeiras de crianças -sempre oportunas.
No dia seguinte era o agora ou nunca. Entre curvas acentuadas e subidas por estradas ladeadas por neve, surgiu o momento em que apareceram os tão desejados tordos-zornais. Não se pode ter tudo; se por um lado é um privilégio assistir a uma paisagem delineada por um silêncio branco, por outro, o nevoeiro e a chuva não permitiam uma visibilidade superior a 5 metros, como se comprova nas fotos possíveis, que apenas servem para registar as espécies e que reflectem as dificuldades do momento.
Ali estava ele - o tordo-zornal escondido por entre ramos e o temporal.
A foto possível num momento a recordar.
Depois de muitas voltas, as condições climatéricas agravaram-se, mas ainda foi possível assistir ao desafio do corvo perante os contornos de uma eventual aparição.
E nas curvas sem margem, o destemido rabirruivo enfrentava a neve sem frio que o demovesse.
Enquanto isso, uma perdiz corria atarefada em busca de um abrigo no meio dos caminhos gelados.
O frio apoderava-se das mãos e o estômago reclamava por atenção quando fizemos um intervalo para aquecer os dedos e a barriga. O almoço foi no restaurante Varanda da Estrela nas Penhas da Saúde. Como entrada deliciei-me com uma variedade suculenta de enchidos, ao que se seguiu o prato principal: um soberbo javali com castanhas e cogumelos regado com vinho tinto da casa. Forças retemperadas!
Voltámos ao local onde tínhamos observados os tordos-zornais, esperámos várias horas pelo regresso das aves enfrentando o frio cortante. Porém, os tordos só regressaram para um poiso breve durante parcos instantes, brindando o nosso companheiro Pedro Inácio com fotografias bem mais apresentáveis.
O tempo passou e com ele a urgência dos afazeres e obrigações para além dos montes e das serras. O regresso foi com a certeza de redescobrir as sombras que se escondem em cada palavra aqui descrita em branco.
Agradecimentos: Família Frade
Pedro Inácio
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