O muro conta que das suas paredes brancas
descem corpos de sangue frio deste findado verão,
osgas de cauda entrelaçada, bailarinas,
roçando as escamas e o ventre pelas arestas da pedra usada,
perseguindo bruxas que no calor nocturno se levantam do chão.
porém, as osgas quando ameaçadas pelo pudor ou pela desconfiança
largam a cauda que fazem rabear no fôlego de artifício novo.
Agora lá estão elas de cabeça para baixo,
exibindo o sensual rendilhado da devoluta pele branca,
com dedos discretos e ventosas regeneradas,
olham para mim atentas aos meus movimentos
mastigam em silêncio as sílabas dos meus passos
enquanto eu contorno o gingar lento das suas pregas.
Elas movem-se entre o saibro e a caliça
e com as suas sombras desenham esboços
de mãos onde lhe sobram dedos
ou bocas de onde espreitam corações,
eu aproximo-me um pouco mais,
elas libertam-se das brancas projecções e fogem
Resignado guardo a toalha de praia e os protectores
até para ano, onde de novo espanto se irá repetir,
porque nas fissuras do muro riem-se criaturas.
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