segunda-feira, 25 de julho de 2016

Um homem o Alqueva e um livro








O homem que tenta suster o Alqueva com um livro,
empurra as águas prometidas para trás das costas,
quando as costas são um mapa das dores secas
e as águas, lágrimas e suor de enchentes solitárias.

Ao seu lado as árvores crescem dentro de água,
imitando a sorte dos velhos solitários
e das casas com telhado de via láctea
num murmurar de vidas em jogos em dominó.

De quando em vez, na memória da brincadeira,
ouvem-se crianças a povoar sorrisos,
o chapinhar dos pés em arpa melódica,
não é mais que uma frequência radiofónica perdida.

O homem que tenta suster o Alqueva com um livro,
em fúria, arranca todas as folhas e atira-as ao vento suão,
depois emerge no vagar do lodo inscrito das histórias
e espera que o salvem como fizeram com a terra submersa.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Raposa-orelhuda ou raposa-orelhas-de-morcego? Para mim raposa com orelhas de abano.

Ainda o sol  lavava o rosto com areia vermelha, já em Samburu, Quênia, o calor tornava-se impiedoso para todos os bichos. A sombra dos arbus...