a Peter Murphy (Ulissipo, 2ª lua de Outubro negro, ano 11)
descalço, de voz sem igual,
a mesma pose imponente de sempre,
animal de pó de palco nocturno no adejar de braços que já foram asas
do tempo das capas negras
e dos vampiros em vermelho fragmentado quase água forte
"Bella Lugosi's Dead"
como as coisas boas que aprendemos e não subtraímos o seu sabor
"Silent Hedges”
o palco cheio, o anfiteatro cheio, e eu, por instantes, num escafandro corporal vazio, sem pinga de sangue,a minha voz sem fala, a minha alma sem dor (pelo menos daquelas)
“She’s in parties”
“All I ever wanted was everything"
com a estranha sensação que já estive ali,
naquele mesmo sítio,que já vivi aqueles momentos
talvez numa outra vida dentro deste invólucro invisível
“Hurt”
foi uma noite onde se celebrou o regresso das coisas cá de dentro;uma noite em tudo diferente de tantas outras
onde o fluxo sanguíneo foi invertido pelo mecanismo cardíaco das palavras novas,
memorial de sentimentos divergentes, cambiantes originais, matérias primordiais e memória.
“The Prince And Old Lady Shade”
“All Night Long”
isto porque...nunca voltamos ao mesmo sitio e sentimos as mesmas coisas de forma igual;
“Cuts You up”
como um livro que redescobrimos que não tem pontos finais,
quanto mais não seja, uma virgula de fala embargada,
e lemos o que fomos um dia:
aquilo que não voltaremos a ser, recordamos apenas,
a calda quente de uma noite em assobio lunar
vertigem, saudade, amor e fogo que não queima os dedos,
E no final, uma canção que não pertence a esta vida,
mas a outras vidas dentro e fora desta.
“Strange Kind Of Love”
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