Fazias hoje 78 anos minha Mãe,
no teu aniversário oferecia-te uma rosae dava-te um beijo dizendo "muitos parabéns",
como se fossemos crianças felizes
no intervalo do recreio desta vida.
Tu aceitavas as rosas e buscavas uma jarra
onde ajeitavas as flores em direção ao sol,
e enchias com água corrente e pura,
como o nosso olhar encadeado pelo sorriso das batalhas
que vencemos mesmo perdendo.
Depois almoçávamos num restaurante chinês
de que tu tanto gostavas e onde o Pai perguntava
"onde está o pão, os chineses não fazem pão?"
numa doce teimosia de uma árvore que não tomba
no final comíamos um gelado frito em run com um café da sorte
e voltávamos para casa a ralhar com o tempo.
Hoje quase tudo foi diferente.
pedi ao padre da paróquia que na missa ao invocar o teu nome
cala-se o buraco que trago no corpo e por onde
choram dias numa lâmina de ausência.
No cemitério fiz caminho até onde descansas,
repeti o ritual do teu aniversário:
o beijo, as rosas, os sorrisos e a luz.
fechei os olhos e num restaurante que ainda não existe,
os corpos de luz puseram a mesa a preceito,
para que ao almoço tivéssemos pão para partilhar,
numa outra membrana de vida por descobrir.
Parabéns minha querida Mãe!
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