sábado, 19 de outubro de 2024

O enganado

 


Não volto a adiar a alma do vinho

Abro uma garrafa agora mesmo!

Não volto a ter medo de começo

mesmo que persinta que vou sangrar no fim.

 

Libertarei todas as lágrimas incomodas e matreiras 

sempre que me apetecer, esteja onde estiver,

e abrirei as janelas do riso em uivo ou gargalhada 

mesmo tendo a boca inchada com crostas de sal.

 

Digo e repito: amo-te! talvez com a mesma facilidade

com que chego aos pés com os dedos das mãos,

criticarei os actos alheios sem pejo da circunstância

com a mesma inocência de uma criança reguila.

 

Rapo o cabelo, pinto a barba, darei azo a todos os devaneios

na urgência com que beijo este espelho partido,

esperando que alguém do outro lado me estremeça,

ou me leve para a terra "do que não fui capaz de fazer"

 

Se tiver que ser, que seja de pé, com amor.

não volto a contar as balas de um velho revolver,

ou remediar as solas dos sapatos antevendo pedradas nas costas

sabes de uma coisa? 

 

A última vez que a morte passou por estes lados

não fez parcimónia nem poupanças.


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