Na Costa Rica, dos parques nacionais visitados este foi sem dúvida, aquele que apresentava a maior taxa de turistas. Eram dezenas, sendo a maior parte americanos, reunidos em grupos, acompanhados por guias locais em lentas deambulações pelos trilhos do bosque. Ora, onde há muita gente, existe forte probabilidade para o ruído e parvoíce e isso não é bom para quem conta observar a avifauna. Talvez por isso, contámos muito poucas aves. O parque é grande e a floresta densa, os trilhos estão bem delineados no solo com estacas e cordas. Por razões de segurança, não é aconselhável sair dos caminhos nem tocar nos animais. Compreensível! Vimos várias espécies de macacos, sendo os macacos-capuchinho de cabeça-branca aqueles que se aproximavam amistosamente dos humanos, interagindo com curiosidade e confiança. Contratámos um guia que se revelou pouco útil. Conduziu-nos até aos macacos e levou-nos a ver as duas espécies de preguiças (dois e três dedos), uns gafanhotos, um lagarto e um caranguejo. Era provável que conseguíssemos ver estes bichos sozinhos, todavia optámos pela companhia deste senhor. Cordial e sorridente, passado um hora e meia, foi à sua vida com recomendações para visitarmos as praias, experiência que não podia deixar escapar - e lá fui eu para um revigorante mergulho no oceano Pacífico. Água estava quente, contudo o mar apresentava revolta ondulação. Depois de levar com duas valentes ondas no lombo, decidi secar a pele na areia e quando lá cheguei os guaxinins preparavam-se para assaltar as nossas mochilas em busca de comida. Enxotámos os animais e eles ripostaram mostrando os dentes para depois seguirem o seu caminho sempre desconfiados. Mas o melhor estava ainda para vir.!No caminho de regresso, depois de fazermos uma curva encoberta por cerrada vegetação, a Ana Frade deparou-se com inesperado encontro. À nossa frente apresentava-se um ocelote Leopardus pardalis, tão imponente quanto discreto. Paralisados pela descoberta, foram segundos de espanto e emoção contida. Estávamos a menos de 3 metros do poderoso felino e o animal caminhou confiante na nossa direcção. O respeito pelo bicho toldou-nos qualquer movimento mais brusco. Com calma baixei-me como sinal de respeito e também para ficar ao nível dos olhos do animal. O enorme gato arfava e movimentava-se com suavidade, controlando os seus passos, nunca desviando o olhar destes três humanos que embevecidamente o contemplavam. Ainda tirei oito fotografias, talvez as mais "valiosas" desta viagem. Nisto, com uma graciosidade silenciosa, o ocelote saltou do solo para o corrimão de madeira que dividia o caminho do bosque, mesclando-se no mato como parte integrante da vegetação e das secretas lendas. Quando mostrámos as fotos aos guardas florestais o espanto e a alegria foram generalizados - há muito que este felino não era avistado, muito menos fotografado com este grau de proximidade. Foi com um grande sorriso que regressámos à nossa base e confesso que ainda com um certo tremor, como sinal de deferência e de agradecimento para com a Mãe Natureza por aqueles segundos eternos.
Ainda hoje, sinto uma emoção especial quando revisito o instante em que o ocelote caminhou na nossa direcção.
Ainda hoje, sinto uma emoção especial quando revisito o instante em que o ocelote caminhou na nossa direcção.
Do maior para o mais pequeno. Estes coloridos gafanhotos destacavam-se da vegetação.
O caranguejo Gecarcinus quadratus estava bem escondido mas as suas cores chamaram-nos a atenção.
À entrada do parque este lagarto parecia ser o guardião do local, olhava-nos desconfiado das nossas movimentações.
A pequena lagartixa tomava banhos de sol tropical.
Algumas das poucas aves observadas
Black-hooded Antshrike Thamnophilus bridgesi
Sulphur-bellied flycatcher Myiodynastes luteiventris
Os assaltantes de mochilas os guaxinins ou o rato-lavadeiro Procyon lotor - se apanhavam um turista mais distraído era saque certo.
Os macacos-capuchinho de cabeça-branca Cebus capucinus não tenham vergonha nenhuma, aproximavam-se para ver o que lhes calhava em sorte, pousando para uma selfie, para de seguida verificar a qualidade dos smartphones.
Pachorrenta, seguindo a lei do menor esforço, esta preguiça de dois dedos Choloepus hoffmanni, esperava que o sol muda-se de posição para se movimentar. Nada de pressas.
Por sua vez, a preguiça-de-três-dedos Bradypus tridactylus e a sua pequena cria, movimentava-se lentamente pelo tronco das árvores, mirando-nos com um olhar patusco.
Ao longe todas as ilhas voam.
Por fim, o esquivo e pouco colaborante squirrel monkey Saimiri oerstedii, encontrava-se escondido por entre a vegetação, a espreitar estas manias cá de baixo, longe da curiosidade destes primos bípedes.
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