sábado, 15 de julho de 2017

Espaço: 1999

Ainda era eu menino, quando subia a um banco para sintonizar a frágil antena da televisão  a preto e branco, evitando que uma eventual chuva de interferências pudesse por em causa um acontecimento por mim tão aguardado. Por isso não arredava pé em frente ao pequeno aparelho, certificando-me que estava tudo em ordem, e ali ficava à espera do meu momento televisivo favorito - o Espaço: 1999. A fantástica história da base lunar Alfa que devido a uma explosão nuclear, viu o satélite terrestre sair de órbita passando a navegar à deriva pelos confins do universo, iniciando-se assim a busca por um planeta que oferecesse condições semelhantes à terra. Eram momentos imperdíveis, isto porque na altura não havia a possibilidade de gravar um episódio ou outras confortáveis modernices dos nossos dias. Posso parecer saudosista (um pouco)  mas realmente aquilo era ver televisão a sério, sem possibilidade de parar a transmissão ou de andar para trás, verdadeiramente sem rede, era assistir a algo que ia esfumar-se em breve, e por isso mesmo com a urgência de guardar todos os pormenores na memória de menino. Foi com esta série que passei a gostar de ficção cientifica no pequeno e no grande ecrã, viajava pelo espaço, sem sair do mesmo lugar e sentia que os meus pés não tinham chão guiados pelo rasto de luz das inumeráveis estrelas.


Da realidade à ficção: Modulo lunar de comando Apollo com um volume de cabine de 6.1 m² e foi concebida para 3 tripulantes.



No quarto-sala lá estava eu de boca aberta a olhar para a televisão, a controlar os movimentos das naves e as suas perfeitas alunagens, a tentar entender as mensagens dos monitores com as suas luzes de piscar fulgurante e sequência hipnótica. Nada era mais importante que aquele acontecimento e eu permanecia imóvel, sem pestanejar e com a cabeça quase enfiada no ecrã, tentando descortinar as mensagens subliminares que dali saiam. Durante quase uma hora era exibido um manancial de assombrosa tecnologia (datada) que me deixava extasiado. Recordo os fantásticos túneis lunares, onde circulavam carruagens sónicas, num perfeito sistema de comunicação entre hangares, nos quais estavam estacionadas as naves águia. Tal como, um pequeno telefone portátil com câmara incorporada que tanto abria portas da base lunar, como servia de intercomunicador; uma visionária abordagem do que são hoje os smartphones, ou até mesmo as armas laser com diferentes níveis de dano. Hoje estes efeitos especiais podem parecer fracos, quase despiciendos mas na altura eram do melhor que a imaginação podia sorver. Presenciei encontros misteriosos com seres de outros espaços e de outros universos, no qual o meu pequeno mundo cabia numa cama de recolher com a almofada arrumada à parte, tudo isto sem sair do meu quarto-sala, sonhava com o dia em que... a humanidade descobre que não está sozinha no universo... Eram horas felizes para um menino que tinha fascínio pelo espaço e pela descoberta de novos mundos.


  

Esta foi o meu primeiro amor por séries de ficção, mas não a primeira grande pancada, essa foi com os Vikings, na altura desenhos animados, hoje uma série de sucesso,
Com o crescimento do sentido crítico do mau e bom gosto, surgiram-se outros momentos de ficção cientifica de que gostei, lembro-me da  Galáctica e dos Ficheiros Secretos e muitos muitos filmes entre eles:

2001 Odisseia no Espaço (vi muitos anos mais tarde),  A Guerra das Estrelas,  Alien,  Moon - O Outro Lado da Lua (2009), Distrito 9 (2009), Prometheus (2012), Gravidade (2013), Interstellar (2014) até chegar aos nossos dias, onde dou por mim no cinema numa sala quase deserta para assistir a filmes como o Primeiro Encontro (2016), Vida Inteligente (2017) Alien: Covenant (2017)

Pois bem, como admirador de filmes de ficção cientifica e com os pés bem assentes na terra fui ver a Exposição Cosmos Discovery Lisboa e redescobri os instrumentos reais dos meus sonhos. Aqui estão eles registados com o meu equipamento portátil que não abre portas nem comunica com uma base lunar mas que regista fotogramas de uma realidade possível.

Veiculo eléctrico de dois lugares utilizado pela primeira vez na lua em 31 de julho de 1971



Lunokhod foi o primeiro robot não tripulado soviético. O Lunokhod 2 aterrou na lua a 15 de janeiro de 1973 e pesava 756 kg. 


Luna 16 - sonda soviética concebida para recolher amostras do solo lunar


Cabine de pilotagem da Space Shuttle






Protótipo de uma sonda para exploração do planeta vermelho.




A minha homenagem a Martin Landau que nos deixou a 15 de julho e entre muitos outros filmes, foi também John Koenig, o comandante da Base Lunar Alfa na série Espaço:1999

Até sempre comandante!

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