Um ano e três meses depois... ouviu-se em Carcavelos poesia dita "à desgarrada".
Foi bom regressar às noites poéticas no Cappuccino´s; rever amigos e revisitar a voz de tantos poetas. Os principais convidados foram aqueles que entraram no espírito, pediram um café poema ou simplesmente um poema de água e foram ficando, fazendo parte de um auto-retrato salpicado por palavras e horizontes. Quem sabe se um dia destes não voltaremos a repetir a iniciativa?
Até lá guardo sorrisos - bem maior destas noites.
Obrigado a todos!
Texto interpretado:
Auto-retrato por Nuno Cairo
Que triste ideia essa de falar desse individuo
que se parece comigo mas que não sou
eu,
porém incumbiram de falar do outro
que não é mais que minha
sombra
resto de cinza e dia sem sol.
Ele vai sendo um pouco daquilo que
eu deixo,
daquilo que desejo depois de possuir
porque bem vistas as coisas,
ele é um pequeno invejoso
o que eu tenho - ele quer
tudo o que ele tem agora - já me
esqueci.
Assim vamos falando todos os dias,
parecemos maluquinhos frente ao
espelho a fazer a barba
ou a lavar os dentes.
às vezes quase andamos à chapada
mas numa coisa estamos de acordo:
esta cabeça é pequena para dois,
quanto ao caixa-corpo tanto faz como
tanto fez.
Temos amores em comum - valha-nos
isso ao menos!
Na escrita, meus amigos – ele é uma
tristeza!
ele escreve, eu apago, eu rasgo, ele
à socapa aproveita.
da minha escrita, ele sorve e expia,
na ânsia de imaginar algo parecido,
mas não consegue terminar uma linha sem me pedir opinião.
entre a vírgula e o ponto ele
estrebucha em ideias vagas.
explosões controladas que não passam
de fogo de artificio.
Na fotografia é diferente mas não
deixa ser também vulgar,
contudo temos uma máquina pelo meio;
entenda-se o mecanismo situado entre o cérebro - casa das ideias
e a ponta do dedo - precipício do toque e do erro
ele habita verbo disparar
(melhor dizendo: disparatar)
porém concedo-lhe tal protagonismo
efémero entre o engenho e a rapidez
mas o enquadramento e a composição
da cena
são de minha autoria - obra de arauto
quando bem conseguida,
e pobre quando ele a faz assim
tremida.
No feitio somos quase, quase… não
tem nada a ver!
mas devo confessar que colaboro -
tem que ser.
eu preciso de alguém que deite este
pobre invólucro em cama lavada,
casa segura, feche a porta do dia, lave a loiça e tudo o mais,
enquanto eu escrevo no escritório,
alguém tem que ser o mestre das ideias!
não acham?
Por isso no dia a dia,
quando ele explode de raiva eu sou condescendente
e acalmo-lhe a boca em fúria,
quando ele se enamora, eu digo-lhe:
humm que mulher tão bonita, de tão
bela torna-se longe, quimera, cidade fêmea invicta.
quando ele conduz eu digo: vá, vá,
mais rápido... anda homem!
quando ele nada - eu digo: ainda te
afogas!
quando ele corre - eu repito: vais
cair vais... vais!
Mas…
meus amigos quando eu estou irritado
(tenho direito às minhas fúrias e as
minhas luas)
ah.... ele que fique longe, quieto e não
saia do seu cantinho,
eu bem sei resolver os meus
problemas!
Quanto ao mais…
não nos entendemos entre o cinema e
o teatro - o melhor é ficar calado!
gosto de futebol e ele não liga ao
Benfica,
eu amo música, ele nem sabe o que é um
dó.
ele gosta de vestir preto (ausência) eu gosto do vermelho (guelra)
ele peixe, eu carne
ele chocolate, eu salgado
dia-noite,cerveja-vinho,
amor - sexo,chuva- sol,
eu serra, ele praia,
ele-eu-eu-ele,
não… não será esse o fim
mas quando ele verdadeiramente cai...
eu
escrevo-lhe algo que não começa nem acaba aqui.
meu Amigo.
foi bom ! cpfeio -
ResponderEliminarObrigado pela tua presença e colaboração. Abraço
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