quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
antes de morrer Efémera disse:
não-frio não-calor não-voz não-coisa-nenhuma
no ano passado
( pelo menos metade dos dias em que dei conta que era dia em vez de noite )
senti que muita gente que me rodeava escolheu partir
eu aceitei que
amigos camuflados de efémeros e amores secretamente efémeros
todos escolhessem o que era melhor
e eu também
escolhi que não voltava a poisar nas flores altas dos trigais
ou abrir a portinhola floral a quem a fechou com estrondo do silêncio
escolhi
que não voltava a poisar nos espinhos que ardiam nos dias de calor
e que não voltaria a perde-me nas zonas cinzentas
onde encontrei estranhos brilhos há uns tempos atrás
de facto
todos escolheram por bem e eu respeitei as suas escolhas uma a uma
optei pela candura dos prados em zunido e queda
no meu canto de flor e cardo em lençóis de vento e mar
não-frio não-calor não-voz não-coisa-nenhuma
apenas o silêncio feito em segundos na paz das asas
quem ficou para curar a ferida dos espinhos?
foram aqueles não-éfemeros
enquanto isso
das cinzas construi olhos de leão e fiz deles abrigos de inverno
depois…
Efémera durou apenas umas horas no tempo do homem
e teve tempo para tudo isto e muito mais
enquanto nós
andamos meio cegos a chamar-lhe tira-olhos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Idade não é um posto
Nemoptera coa Os biólogos afirmam que o tubarão-da-gronelândia pode viver mais de 400 anos. Este vertebrado atinge a maturidade sexual com ...
-
A tarde de ontem chegava ao fim, contudo, o dia de teletrabalho obrigava-me a mergulhar os neurónios no monitor para tentar perceber o que n...
-
Em Junho deste ano, quando estava a gravar a entrevista para a reportagem da Sic sobre o Parque Florestal de Monsanto , perguntaram-s...
-
No reino das objectivas vintage com um cunho muito pessoal, há muito que procurava esta lente reconhecida pelo seu efeito mágico bubble ...
Comentário por: M
ResponderEliminarmvlouro@gmail.com
2010/01/11 at 4:20 pm
Por vezes o afastamento é necessário…Essencial…especialmente quando nos sentimos perdidos.
Por vezes ninguém nos pode encontrar, apenas nós os próprios perdidos.
Parece loucura …
Mas quando o sentido da marcha se inverte, quando tudo deixa de fazer sentido porque o rio corre para norte, em vez de correr para sul…
Só nós os que nos perdemos sabemos encontrar o caminho de volta.
Só nós temos a chave.
Outros que nos rodeiam emprestam-nos a deles mas não serve, não dá, apenas a sua boa vontade nos dá animo de continuar a busca…até que descobrimos que está dentro de nós.
Desvendando o segredo da cegueira, do sentimento de perca, do abandono:
se nós não nos quisermos encontrar, ninguém o poderá fazer por nós…essa é chave certa!
Comentário por: Sérgio Guerreiro
ResponderEliminar2010/01/13 at 11:19 pm
A bater o queixo de frio
um menino com um pé descalço
olhou o céu e fez com os dedos um quadrado
pouco ou nada viu – mas continuou
tentou desviar as nuvens de algodão – elas não se mexeram
arriscou tocar naqueles pontos brilhantes encobertos – não conseguiu
ousou dar fala à sabedoria – mas sem razão
mais tarde coberto por uma fogueira de retalhos
a lua desceu sobre a curva do sono
surgiu um arrepio na espinha que não entendeu
lembrou-se do que queria ser – quando for grande
serei
– disse ele
e inventou o que hoje chamamos de
[ máquina de ver ao longe o que sempre esteve perto.
ou
[ máquina de ver ao perto o que sempre esteve longe.
– tanto faz
depende do prisma com que olhamos para dentro.
Comentário por: M
ResponderEliminarmvlouro@gmail.com
2010/01/15 at 3:32 pm
A magia da vida…
é a descoberta…
a redescoberta…
traçar uma nova rota…
Mas nunca esquecer o caminho percorrido.
a vontade, o querer, o conseguir… não se vende nos saldos.
é para o que se nasce…ou a vida nos proporciona.
Se calhar ele não sabe, porque ninguém ousou dizer-lhe que ele pode ser o que quiser.
Enquanto o sonho continuar, a esperança não morrer, é possível ser.
Comentário por: Sérgio Guerreiro
ResponderEliminarsergionguerreiro@gmail.com
2010/01/24 at 4:33 pm
uma gata mansinha e outra arisca
duas gatinhas tão diferentes
a gata mansinha queria ser menina bibelô de um colo só
[ receber mimos das mãos dos sonhadores
enquanto que
a gata arisca sonhava ser bruxinha das mil e uma noites
[ rondar todos os telhados das cidades descobertas
Filhas da mesma mãe
a gatinha mansinha teve da vida os telhados e os caixotes do lixo
[ remexidos pelo susto dos vagabundos
[ sempre a fugir dos carros e a saltar por entre passeios num grito perigoso
feliz
a gatinha arisca que sonhava ser bruxinha
agora refastelada no pão que o diabo amassou
[ nos sofás confortáveis ar condicionado quente-frio-frio-quente
[ sem encaracolar um milímetro do seu longo pêlo escovado
de tédio
Hoje
a gata mãe lambe as patitas
do lado de fora da janela sem saber se deva entrar ou sair
apenas miou.
Comentário por: Erisson Melo
ResponderEliminarandreiaeerisson@hotmail.com
2010/01/25 at 7:08 pm
Sérgio Guerreiro agradeço o esforço e dedicação com que você agarrou este trabalho e já esperamos o próximo e contamos com todos la estiveram!