(Às 11:33 o país apagou-se)
Junto à janela, o rádio a pilhas,
acompanhava as orações
da minha avó, de voz baixa,
da alma para o dedo,
ao toque do terço de tantas missas.
(Não temos internet, nem telefone!)
A minha avó, era uma mulher sábia,
dona e senhora dos almanaques de borda de água,
sabia as novenas e o nome dos locotores,
de voz solene e radiofónica em onda curta
e quanto à apanha da azeitona, líder de crise da geada.
(Península Ibérica sem eletricidade)
A minha avó não se deixava enganar
com as previsões meteorológicas,
nem com as pantominices políticas,
o peixe chegava uma vez por semana,
a minha avó nunca andou de avião.
(11 horas sem eletricidade, país incomunicável)
O candeeiro a petróleo e a lareira amarela
albergavam gatos adormecidos na lenha seca,
as torradas, o café da manhã, e a tenaz viva
removiam as cinzas e avivavam o fogo cansado,
lá fora, a necessidade roubava cor às rosas.
(O apagão não apaga a memória daqueles que já partiram)
Sem comentários:
Enviar um comentário