quarta-feira, 22 de março de 2023

Domingo magro

 




um homem cai num jardim cheio de domingo,

ninguém repara, a felicidade estoura balões,

as crianças riem, os pais seguram o sol, 

cicatrizando medos na pele familiar.

 

o homem levanta-se com a dignidade solitária

de quem não se importa com as calças mictadas

ou com a fome que lhe seca a casca do corpo,

sorri, procura a sombra entre pinheiros. 

 

o domingo está prestes a findar, 

as crianças desaparecem com os progenitores 

engolidos nas filas de carros que falam sozinhos,

familias recolhem exaustas às colmeias.

 

o homem de calças com manchas de urina

e camisa com nódoas de sangue ou vinho,

não deixa o domingo eclipsar-se nem o jardim fechar,

sem antes esquecer-se de um qualquer poema;

 

numa noite a fazer-se de abrigo.


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