segunda-feira, 11 de julho de 2022

Vizinhos

 




do rés do chão aos andares cimeiros floresce humidade

os gatos já não falam com os fantasmas indisciplinados,

os roupões tingidos ficam dias nos estendais a adiar a morte,

as cartas das pensões amontoam-se nas caixas do correio.  

 

das janelas fechadas fazem-se máscaras sem rosto,

dos beijos apartados às mãos a cheirar a álcool,

toda a distância do afecto é ampliada pelo olho de boi;

da porta espia-se a ausência de quem desespera.

 

de quando em vez a luz da escada acende-se,

as dobradiças de ferro gritam por óleo,

fecha-se o dia após 25 segundos de luz,

derramada indecentemente no corrimão solitário.

 

a ambulância levou os meus queridos vizinhos,

a contragosto, num arrastão doentio e veloz,

nesse dia ouvi dizer: nunca vivemos nada assim!


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