Esta foi a segunda viagem que fizemos até Solsona, em Espanha, para tentarmos a nossa sorte com o quebra-ossos. Da primeira, ave sobrevoou o abrigo sem poisar, porém desta vez a história foi diferente.
Chegámos ao abrigo situado num planalto árido de Solsona e de imediato alojámo-nos consoante as nossas possibilidades, no que mais parecia ser a "cabana dos 3 porquinhos". O espaço era exíguo com paredes de madeira laminada, mas que serviu para acomodar, sem apertos de maior, 3 pessoas com tripés, máquinas, objetivas e mochilas. As cadeiras eram confortáveis para as longas horas de espera que se adivinhavam. À nossa frente, estendia-se horizontalmente um vidro de cristal que funcionava como janela para o exterior, sem denunciar a nossa presença, dando-nos uma visão abrangente das movimentações nas redondezas. Lá fora o Juan, o nosso guia, preparava o chamariz e espalhava coelhos mortos e grandes ossos de forma aleatória. Ainda estava o Juan a arremessar a carne pelo perímetro do abrigo, já os grifos poisavam sem vergonha, aguardando vez para atacar tamanha iguaria. Contudo nós não queríamos grifos!
O Juan saiu de cena e os corvos vieram agoirar o local medindo forçar com os resilientes abutres. As primeiras duas horas inventámos narrativas e abordagens fotográficas com os bichos que tínhamos à nossa frente e que se banqueteavam com a carne que fora deixada à sua disposição. Corvos e grifos, grifos e corvos. O som era de festim sanguinário e carnificina; os coelhos branquinhos eram desventrados pelos bicos aguçados das aves, numa guerrilha pela pose do melhor bocado. Corvos contra grifos, os bichos gladiavam-se numa luta entre a soberba e a gula, num bater de asas com lampejos negros e gritos de guerra. Não satisfeitos com a bulha, as aves negras subiram para cima da "cabana dos 3 porquinhos", e bateram com as patas ferozmente, como se estivessem prestes a despedaçar o telhado que nos servia de abrigo. Duas horas depois, confesso que já estávamos fartos de corvos e grifos, queríamos outra coisa!
E assim procurávamos nas altitudes um sinal, uma sombra do tão almejado quebra-ossos. De tanto esquadrejar os céus, as nossas preces foram ouvidas, e lá longe entre a cordilheira dos Pirenéus e as nuvens cinzentas, uma pequena silhueta lentamente ganhava a forma dos nossos desejos. O planar suave do quebra ossos, imperial deu várias voltas ao abrigo, circundou o cenário e aterrou. Diria que a medo. Apontei a máquina de filmar para a cena e com a máquina de fotografar dei fogo ao disparador até que os dedos me doessem. Pelo azar das outras vezes e por cada quilometro que fizemos desde Lisboa até Solsona, redimi-me do cansaço e do silêncio das viagens, fotografando a alma dos bichos que já foram pedras.
Chegámos ao abrigo situado num planalto árido de Solsona e de imediato alojámo-nos consoante as nossas possibilidades, no que mais parecia ser a "cabana dos 3 porquinhos". O espaço era exíguo com paredes de madeira laminada, mas que serviu para acomodar, sem apertos de maior, 3 pessoas com tripés, máquinas, objetivas e mochilas. As cadeiras eram confortáveis para as longas horas de espera que se adivinhavam. À nossa frente, estendia-se horizontalmente um vidro de cristal que funcionava como janela para o exterior, sem denunciar a nossa presença, dando-nos uma visão abrangente das movimentações nas redondezas. Lá fora o Juan, o nosso guia, preparava o chamariz e espalhava coelhos mortos e grandes ossos de forma aleatória. Ainda estava o Juan a arremessar a carne pelo perímetro do abrigo, já os grifos poisavam sem vergonha, aguardando vez para atacar tamanha iguaria. Contudo nós não queríamos grifos!
O Juan saiu de cena e os corvos vieram agoirar o local medindo forçar com os resilientes abutres. As primeiras duas horas inventámos narrativas e abordagens fotográficas com os bichos que tínhamos à nossa frente e que se banqueteavam com a carne que fora deixada à sua disposição. Corvos e grifos, grifos e corvos. O som era de festim sanguinário e carnificina; os coelhos branquinhos eram desventrados pelos bicos aguçados das aves, numa guerrilha pela pose do melhor bocado. Corvos contra grifos, os bichos gladiavam-se numa luta entre a soberba e a gula, num bater de asas com lampejos negros e gritos de guerra. Não satisfeitos com a bulha, as aves negras subiram para cima da "cabana dos 3 porquinhos", e bateram com as patas ferozmente, como se estivessem prestes a despedaçar o telhado que nos servia de abrigo. Duas horas depois, confesso que já estávamos fartos de corvos e grifos, queríamos outra coisa!
E assim procurávamos nas altitudes um sinal, uma sombra do tão almejado quebra-ossos. De tanto esquadrejar os céus, as nossas preces foram ouvidas, e lá longe entre a cordilheira dos Pirenéus e as nuvens cinzentas, uma pequena silhueta lentamente ganhava a forma dos nossos desejos. O planar suave do quebra ossos, imperial deu várias voltas ao abrigo, circundou o cenário e aterrou. Diria que a medo. Apontei a máquina de filmar para a cena e com a máquina de fotografar dei fogo ao disparador até que os dedos me doessem. Pelo azar das outras vezes e por cada quilometro que fizemos desde Lisboa até Solsona, redimi-me do cansaço e do silêncio das viagens, fotografando a alma dos bichos que já foram pedras.
O Gypaetus barbatus tem vários nomes comuns pelo qual é conhecido, entre eles: lammergeier, abutre-barbudo, abutre-dos-cordeiros ou abutre-das-montanhas. Esta ave necrófaga apresenta uma envergadura de asas de 3 metros, 8 quilos de peso e mede pouco mais de 1 metro de comprimento. A sua dieta alimentar é feita à base de medula que extrai dos ossos. Se conseguir, não se faz rogado e engole ossadas inteiras, sem cerimonias. Caso contrário, eleva os ossos nos céus para depois os deixar cair sobre as pedras.
Desde os Pirenéus, aqui fica banquete do quebra-ossos, segundo um desesperado Lusitano fado.
O ganhar terreno do quebra-ossos entre a escassa vegetação.
Depois de encontrado um osso é só engolir
De papo quase cheio, as regras de etiqueta não são para aqui chamadas...
Ingerir depressa antes que os outros roubem esta oportunidade.
Depois o quebra-ossos teve que defender a sua posição no cenário de guerra
Os corvos não se sentiram intimidados e reclamaram o seu quinhão.
E chega para lá… passaram a ação com um bicada cirúrgica,
Toca a fugir daqui para fora…
Quem ri por último...
Não fica mal este novo disfarce?
Quem te julgas tu?
Eu estou a ouvir os "3 porquinhos" dento da cabana...
Retratista, quem eu?
Há coisas difíceis de engolir!
De voo triunfante com um pau nas garras....
Agradecimentos:
José Frade
Luis Arinto
Juan
Carles
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