sexta-feira, 22 de junho de 2018

Um estranho

um estranho aproximou-se do muro da praia,
por ali, uma jovem passeava um tímido cachorrinho branco,
a improvável chuva desmontou-se na transparência de céu,
talvez por isso, a maré se enchesse de paciência e juventude.

o estranho remexeu a roupa interior e despiu-se,
vagarosamente, roçou a nudez contra o muro da praia,
depois, sibilou um alerta à menina:" tem que crescer"
a fala confessou-se convidativa e de estranha articulação.

a menina gritou e das mãos fugiu-lhe a trela,
o cachorro assustado escorregou desamparado pelo  pontão,
ficando preso na primeiro degrau antes da rebentação,
os pescadores vidravam a maré engalanada com fome de tragédia.

a menina cavou na face a primeira ruga de outras que viram,
o estranho ostentou a intimidade a quem  por ali se perdesse,
a menina, a esforço, esticou-se para resgatar o cachorro pelas patas traseiras,
o estranho zarpou a baloiçar a nudez flácida pela rampa do pontão.

o cachorrinho ladrou e a menina sorriu,  deles apenas se soube isso,
os pescadores de tainhas teimavam em apurar quem a tinha maior,
as pequenas tainhas morriam devagar naquele chão molhado de Junho;
ainda não eram seis da tarde e a bandeira vermelha já fizera tanto estrago.

o estranho mergulhou na primeira onda que em estilhaços o abraçou
e repetiu a glória até naufragar no incógnito primeiro dia de verão.

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