quarta-feira, 21 de março de 2018

Espinho



Agora que o gume afiado do alfinete corta o dedo,
brilha a gota exemplar do todo o sangue do mundo,
devagar, procedo à extracção da lasca selvagem,
que se glorificou dentro da sombra dos meus limites.

Na ponta luminescente do alfinete em brasa,
deposito a esperança de me libertar deste espinho,
que durante anos se alojou na manta curta da pele,
num irrequieto crescendo, tão impuro quando silencioso.

De todas as minhas imperfeições passíveis de escárnio,
este espinho provém da rosa que me corrige da bendita fealdade,
pois entre pus e sangue pisado, esta lasca clandestina,
é a mais perfeita virtude que trago comigo.

Já fora da bainha de carne que lhe serviu de invólucro,
o poder da lupa revela os contornos da indómita falha
dela despeço-me das flores áreas, das raízes urbanas,
das árvores forte e dos frutos de perfeição violenta,
que durante dias sentiram o desnorte dos meus passos.

tão vegetal fui sendo húmus,
que de tudo se passeou pela carne sem lhe ligar nenhuma.





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