Lagos.
Em Abril embarquei na companhia da Days of adventure em busca dos golfinhos da costa algarvia. O azul atlântico era um apelo convidativo à descoberta e assim o barco fez-se ao mar, sem temer a ondulação ou o humor dos deuses. Após algumas milhas, o cão-de-água que fazia parte da tripulação começou a ladrar, desatando a correr pelo barco como se tivesse localizado um tesouro. As pessoas assomaram-se da proa para ver o que estaria na origem da azáfama canina. O cão continuou a manifestar-se dando sinal do que se adivinhava inesquecível. Instantes depois, dois golfinhos-comuns (Delphinus delphis) rasgaram o mar em mergulhos constantes, trazendo sorrisos aos passageiros da embarcação.
E como são rápidos estes golfinhos: em média 5 a 7 milhas/hora, contudo podem atingir 29 milhas em perseguição de presas ou em movimentações entre áreas de alimentação. Estes animais medem entre 1,6 e 2.4 metros de comprimento, pesam em média entre 100 a 200 kg, sendo a sua alimentação à base de sardinha, anchova, polvo e camarão. A sua longevidade pode atingir meio século. Este é o cetáceo mais comum da costa portuguesa incluindo Açores e Madeira.
No meu momento de sonho atlântico, o golfinho juvenil e o seu progenitor ladearam o barco, após alguns minutos juntaram-se a um grupo com vários indivíduos, depois em acrobacias destemidas cruzaram as ondas mesmo em frente das nossas mãos, desaparecendo por fim na linha ténue do horizonte.
Entre homens e outros bichos a comunicação transcende a linguagem dos símbolos e da memória.
Para que o sonho não fugisse, o oceano passou a ser tão pequeno que quase cabia num punho fechado de felicidade.
A linha do horizonte desenhada pelo avistamento libertador.
Seguiu-se a aproximação ao barco
Do pequeno golfinho e do seu progenitor
Familiarmente tão perto
Entre águas numa coreografia de afectos
Até um Ganso-patola (Morus bassanus) veio ver que festa seria aquela.
Aquando do regresso, cruzámos um imaginário tabuleiro de xadrez com peças alinhadas e esculpidas pelas mãos do vento e das eras geológicas. Eis a Ponta da Piedade; um magnífico complexo rochoso de admiráveis configurações; composto por ilhéus, promontórios, praias e falésias, onde a voz da natureza ecoa num compasso infinito.
No milenar evoluir destes ilhéus atlânticos
Assim foi a admirável passagem pelas esculturas rochosas da Ponta da Piedade. |
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