sexta-feira, 26 de abril de 2013
a mala e a casa
sem cadeiras nem cama, mesa nem bancos
sem tapetes nem quadros, fotos nem espelhos
sem água nem luz, telefone nem gás
sem livros nem discos, copos nem corpos.
com tantos dias de luz pó e outras noites
o ranger das janelas por abrir e as portas velhas que querem falar
do ontem, um dia assim que já passou,
mas só as fechaduras encravadas pelas chaves do silêncio
respondem ao balançar das teias de aranha nos vértices dos anos;
unindo os pontinhos pretos de humidade num rendilhado de vida
e por fim, no meio do corredor, uma mala pequena e velha com histórias por abrir.
é o que existe nesta casa - apenas uma mala pequena e velha
secretamente fechada com um código numérico para abrir o passado.
os seus donos saíram há muito mas prometeram que um dia viriam buscá-la,
os seus donos seguiram destinos diferente de pontes frágeis e ilhas novas
contudo, a mala pequena e velha tão só compreendeu o desunir das mãos
e fechou-se sobre a respiração lenta das paredes
que se afastam cada vez mais da coluna mestra do edifício;
é mais fácil começar daqui, do nada-espaço amplo, inabitado futuro
porque numa casa vazia todos os erros são perdoados.
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