Não havia maneira de nos encontrarmos a não ser por acaso.
Foi o que fizemos; combinámos um encontro que fosse completamente fortuito, produto de uma coincidência entre o tempo e o espaço de cada um. Combinámos o local, a hora, as roupas que cada uma de nós iria vestir, o que iríamos dizer, porém para não alimentar expectativas, ressalvámos a hipótese de nada disto acontecer. Eu podia adoecer e tu podias ter mais que fazer. Ou então desistíamos de nós, porque já não nos apetecia habitar o corpo de um animal há muito tempo ferido. Ser dois custa muito e dói ainda mais.
O encontro ocasional, foi numa grande loja do Chiado, perto da secção de Poesia erótica. Tu chegaste e com os dedos ainda molhados da chuva de Domingo (chove sempre no meu fim-de-semana) desfolhavas um livro com um título escandalosamente curto para ser poema. Eu espreitei por cima do teu ombro (o teu cabelo cheirava a maça) e apontando para a capa, perguntei:
“Há quanto tempo não fazias isto?”
Tu com olhos grandes onde cabiam tantos comprimidos para dormir (continuas a usar as minhas coisas, até o meu lápis sombra com o qual "mal" pintas os olhos) respondeste:
“Isto, o quê?”
Eu reforcei:
“Há um ano, dois anos? Sabias que quando duas mulheres dormem juntas, durante anos, até os ciclos menstruais coincidem. É uma questão de tempo e de espaço. É biológico."
Tu olhaste em redor e disseste:
“Biológico ou não…. Não vamos falar disto em público!”
Toquei no livro que estavas a percorrer com o olhar, e reparei que o corpo nu que estava na capa pedia mais que uma palavra.
Hesitei, não queria estragar o momento. Não dissemos mais nada. Um sorriso de cumplicidade bastou. Foi assim que nos conhecemos e será assim que iremos esquecer tudo o resto.
Agarraste-me na mão e depois de um beijo tatuado no teu pescoço, fomos página.
(Fora de qualquer tipo de ficção literária, apresento a fotografia seleccionada na 2ª Maratona Fotográfica do Metro de Lisboa. O meu obrigado às modelos.)
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