domingo, 30 de maio de 2010
Maças da Índia
eras ainda,
nas mãos um punhado de maças da índia
boca de seixo na orla do silêncio
olhos de horizonte que faziam sorrir os descontes
foste depois
dizendo a todos e mais alguns, que tinhas a cura
para as dores e desventuras que sulcavam o eixo das mágoas
para as horas que corriam ao contrário das horas
e para as insónias pele de cobra
contudo, ninguém te ligou nenhuma,
posto isto, não estiveste de meias medidas,
esmagaste com as mãos as pequenas maças da índia
com a mesma força do fruto ao parir dias desiguais
enquanto trincavas a raiva quase desnorte
mordendo o lábio superior esquerdo até que, deu no que deu,
sumo liquefeito em grainhas e sangue agridoce pelos lábios abertos à falta
a escorrer
um fio ensanguentado de silêncio num serpentear lento
pelo teu vestidinho de vinco aprumado e depois
no tua completa indumentária de branco de tão branco que era
como esta página que desconhece o teu baptismo
tudo se tornou gradualmente vermelho numa mancha de dor crescente
só assim todos repararam e vieram em teu socorro (sim todos sem excepção!)
(de boca aberta e queixo a roçar os joelhos) todos eles com a cabeça na mão
perguntaram ante tal estupefacção:
a menina?... esta agora! a menina passou-se! não mexa nisso! mas que parvoíce vem a ser esta?
e tu respondeste:
só reparam no que destoa da estúpida normalidade (aparente)
quando aprendemos a gritar com as mãos.
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