sexta-feira, 23 de abril de 2010
Medusa
(quando ele fugiu da prisão dos portadores)
ainda a madrugada prenunciava o primeiro nome da manhã
já o homem que sonhava ser peixe procurava tesouros
no azul silencioso que das águas traz turvas memórias
apenas a três metros de profundidade do sonho
(quando ela fugiu do cárcere das reprodutoras)
ainda a maré prendia as primeiras barcas no porto dos pecados
já a mulher que sonhava ser ave livre fazia o ninho
nas janelas das árvores num telhado em crista de fogo
apenas a quatro metros de altura num abismo de estimação
(quando se encontraram na corda que une os sonhadores)
morreram felizes reclamando o sol como sendo o seu raptor
foi então que na praia das maças deram à costa dois corpos estranhos
de pele vítrea de tecido informe e sem esqueleto
medusas quase humanas que de beijo membrana pereceram unidos pela boca
segundo dizem os homens de horas certas
entendidos nestas coisas do céu e do mar
tratava-se de um segundo de felicidade
perdido num multi-verso qualquer
e para bem da ordem interna
sem repetição aparente.
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