sábado, 16 de novembro de 2024
Raposa-orelhuda ou raposa-orelhas-de-morcego? Para mim raposa com orelhas de abano.
sábado, 9 de novembro de 2024
Leitura Portátil: Juan Rulfo - Pedro Páramo
Este foi o primeiro livro que li depois da partida da minha Mãe. Companheiro de horas solitárias, passadas na sombra, na sabedoria das árvores, no sono confuso das primeiras horas do metropolitano, ou na espera que uma tempestade deixasse um aeroporto em paz. Um pequenino livro, um gigante complexo. Li pouco em casa porque dói-me muito estar aqui, dentro da membrana desta lágrima. Estas são também as paredes de um livro com uma dor em comum, a perda e a ausência de respostas para essa falta.
Não é um livro fácil, mas é um livro
único. As constantes vozes que surgem de forma inesperada alertam-nos para
acontecimentos que mais à frente iremos entender, (ou não) e apelam a uma
releitura atenta. Várias vezes reli as páginas anteriores para entrar no ritmo, porém nem sempre resultou e por vezes senti-me ainda mais perdido. O realismo mágico dos mortos enterrados na
aldeia e os seus diálogos, elevam esta obra a um patamar de
ficção fantasmagórica.
Tudo começa quando no leito de morte, a mãe
do narrador pede que procure o paradeiro do seu pai Pedro Páramo, numa pequena
aldeia mexicana chamada de Comala. Um local deserto, quente e árido, onde o mesmo inicia a busca pelo seu pai, ouvindo relatos sobre o homem mais poderoso e com mais
influência naquelas paragens. Depois entram histórias dentro de
histórias. Jogos de influências, chantagens e mortes deixando-nos atordoados e
sem saber que livro temos nas mãos. Será este o mesmo livro que comecei a ler?
Por certo que sim. Mas ainda não sabes onde isto te vai levar. O que é bom!
Respiramos pó num ambiente ressequido que nos mirra a boca. De página em página vasculhamos um labirinto intencional de equívocos. Para encontrar respostas (nunca definitivas) vamos ter que voltar e escavar com as mãos a história para nos perdermos novamente... Qual vida qual carapuça!
E Juan Rulfo escreveu:
" Aquilo está sobre as brasas da
Terra, na própria boca do Inferno. Basta dizer-lhe que muitos dos que lá
morrem, quando chegam ao Inferno, regressam em busca do seu agasalho. “
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
o espinho
o corpo da madrugada
incendeia o suor
das bocas ao toque
no óxido das gaiolas
as nuvens libertam-se
do céu enferrujado
e as aves beijam-se
uma última vez
esqueci-me de te dizer:
as chaves orfãs de casa
estão guardadas no coração
da porta - junto ao cacto centenário
quando entrares
não faças barulho
cuidado com os espinhos
a morte morreu.
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Ontem na Damaia
pela goela do bairro
resvalam tiros
ardem autocarros
queimam-se luas
caem fogueiras na rua
a morte é sequestrada
quando a razão não tem cor
a vida é una.
domingo, 20 de outubro de 2024
6 meses depois da tua partida
a lágrima percorre a raiz
na palma da mão
desenha a curva
perfeita das tuas iniciais.
pergunto a Deus
o que fez de ti?
para além de minha Mãe forte
meu eu incompleto.
sábado, 19 de outubro de 2024
O enganado
Não volto a adiar a alma do vinho
Abro uma garrafa agora mesmo!
Não volto a ter medo de começo
mesmo que persinta que vou
sangrar no fim.
Libertarei todas as lágrimas
incomodas e matreiras
sempre que me apetecer, esteja
onde estiver,
e abrirei as janelas do riso em
uivo ou gargalhada
mesmo tendo a boca inchada com
crostas de sal.
Digo e repito: amo-te! talvez
com a mesma facilidade
com que chego aos pés com os
dedos das mãos,
criticarei os actos alheios sem
pejo da circunstância
com a mesma inocência de uma
criança reguila.
Rapo o cabelo, pinto a barba,
darei azo a todos os devaneios
na urgência com que beijo este
espelho partido,
esperando que alguém do outro
lado me estremeça,
ou me leve para a terra
"do que não fui capaz de fazer"
Se tiver que ser, que seja de
pé, com amor.
não volto a contar as balas de
um velho revolver,
ou remediar as solas dos
sapatos antevendo pedradas nas costas
sabes de uma coisa?
A última vez que a morte passou
por estes lados
não fez parcimónia nem
poupanças.
sábado, 7 de setembro de 2024
Quando a terra chamou
Dormia sob o respaldo dos
antidepressivos
quando um tremor sacudiu a cabeça
da cama,
enleou-se nos meus pés com a força
das algas vivas,
segredando-me espasmos em forma de
nome.
só podias ser tu a chamar-me;
de punhos agrilhoados ao lençol
gritei: "já vou Mãe!"
a tua ausência física saturou o ar
de prata espectral,
sei que estás aqui mesmo que não te
veja no vidro solar.
pela fisga do subterrâneo o prédio
desviou-se do eixo,
das pulsações da cama
o quarto pequeno mais prisão ficou,
sem saber a quem pertenço ouvi a
terra gritar dores maiores;
disse e repeti: "Mãe estou
aqui!"
em segundos tudo se moveu mais do
que em 50 anos
redigidos em montes, serras e
cidades subaquáticas;
desta vida pouco levo e os recibos
que vou passando
continuam a ter a tua
assinatura.
---------------------------------
Sismo sentido em Portugal dia 26 de agosto de 2024, pelas
05:11 da manhã, com 5.3 de magnitude, sendo o epicentro a 8 quilómetros a oeste
de Sines.
Raposa-orelhuda ou raposa-orelhas-de-morcego? Para mim raposa com orelhas de abano.
Ainda o sol lavava o rosto com areia vermelha, já em Samburu, Quênia, o calor tornava-se impiedoso para todos os bichos. A sombra dos arbus...
-
A tarde de ontem chegava ao fim, contudo, o dia de teletrabalho obrigava-me a mergulhar os neurónios no monitor para tentar perceber o que n...
-
Em Junho deste ano, quando estava a gravar a entrevista para a reportagem da Sic sobre o Parque Florestal de Monsanto , perguntaram-s...
-
No reino das objectivas vintage com um cunho muito pessoal, há muito que procurava esta lente reconhecida pelo seu efeito mágico bubble ...