Os pássaros bem avisaram,
ao uivo da tempestade
38 anos de raízes
seriam arrancadas do chão.
a árvore tombou
e com ela a torre de líquenes,
as folhas em forma de barquinho
não impediram o naufrágio dos bichos.
aprendi a amar janelas
com árvores de chá para além das nuvens,
hoje, cortaram em pedaços o tronco,
ramos, braços, uma lasca do meu coração.
junto ao caixote do lixo do bairro,
amontoaram os ramos do cadáver desprezado,
os melros vestidos a rigor piavam e piavam
até ser noite outra vez.